segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Da moral provisória em Descartes- Osvaldo


A saber, Descartes foi um dos primeiros filósofos a querer ir descobrir como era dado este relativismo afora “in loco”. Para tal ele não tratou como Kant de uma moral universal, ou seja, um “imperativo categórico” provindo ainda da razão.
Ao se juntar às tropas de Mauricio de Nassau, assim como em outras aventuras, estas foram dadas apenas pelo desejo de Descartes de descobrir o mundo afora, e dentro desta relatividade de costumes e culturas ele propõe que a moral seja apenas “provisória”, ou seja, que cada cultura em particular não necessariamente atenda a uma categoria universal, mas sim a de seu devido contexto e possibilidades. Mesmo assim isso não pode fugir daquilo que pode ser conhecido de forma universal a todos os homens, pois a razão é de igual forma distribuída a todos. Se fazem bom uso disto ou não já é um outro debate.
Oras, como poderia isto se possível se o próprio Descartes combatia o relativismo? Pelo fato que sua procura “universal” estava na questão do conhecimento, das ciências, e não se alguém que é polígamo em alguma parte do oriente se faz menos “humano” do que um ocidental monogâmico. Mesmo porque políticas e sociedade estão fora do escopo epistemológico cartesiano. O que mais vai além disso em Descartes é seu argumento ontológico para a existência de Deus, e este nada a ver com teologia ou doutrinas., mas ainda dentro de um âmbito do conhecimento, subjetividade, idéias inatas, e lógica.
A saber, o viés atual de racionalismo em nossa sociedade, é do modelo cartesiano, embora não muito seguido ao pé da letra, portanto ele não é em “desuso” . O que acontece é que racionalismo hoje abre um debate muito amplo em filosofia, como filosofia da mente, neurociência, lógica pura, filosofia da linguagem e outros,. Todos advindos do grande abalo nas estruturas do pensar a partir da “elevação” do sujeito proporcionado por Descartes. Sem contar que a psicologia e a fenomenologia estão ambas atreladas a ele.
Aqui vai uma opinião própria minha, pois penso que em filosofia jamais filósofo algum abalou estruturas de forma tão radical e que prevalecesse. Nem Marx, nem Nietzsche. Pois Descartes mergulhou dentro de nada mais nada menos do que as fundações profundas do conhecimento. Este que nenhuma das outras ciências a não ser a filosofia e a metafísica pode alcançar.
Apenas o ceticismo pode abalar estas estruturas. E isto é filosófico. E como pediria Descartes, que venha o ceticismo! Mas que ele seja feito com rigor, método, e alcance os fundamentos que o próprio cético não pode negar: de sua subjetividade! Senão tudo não passa de um grande sonho, em que estamos perdidos numa floresta sem saída.

domingo, 29 de agosto de 2010

Uma nova leitura para a alegoria da caverna? - Osvaldo


Nietzsche vai revirar no túmulo, mas aqui vou citá-lo, e a morte de Deus.
Porquê? Bem, a saber, segundo o autor eu, você e os outros matamos Deus. Este argumento pode ser impactante se não aprofundado, mas para tudo há uma boa razão de se dizer.
Voltemos à alegoria da caverna, e como o colega bem citou acima do “temor” frente à verdade que, após ofuscar os olhos, leva o prisioneiro de volta às trevas.
Agora voltemos para nossa contemporaneidade, que é submersa por um niilismo marcante da falta de valores. E se há “valores”, estes são apenas os que incapacitam o potencial humano, numa mistura muito homogênea com o hedonismo marcante, fator este que é um adicional muito pejorativo para agora, alem de inibir o homem a sair da caverna, o torna cego de vez!
O hedonismo é uma marca muito característica dos tempos atuais, largamente criticado e vaticinado por Nietzsche mais de um século atrás. Tal fenômeno está relacionado à nossa orfandade após o óbito de um balizador para a humanidade que sempre foi Deus, dando espaço para os vieses científicos contemporâneos que aludem a formação de um novo homem, ou seja, a ciência assume o lugar de Deus em seus joguetes que nos remetem às discussões éticas como a clonagem, que por sua vez nos leva de volta a Nietzsche quando este vaticinou que cada vez mais o homem perdia a noção instintos que protegem a vida.
Oras, o hedonismo, arrisco dizer, além de estar coadunado com a inescrupulosa falta de conhecimento do homem moderno,é uma característica marcante, moderna e ilusória para a alegoria da caverna. E este medo frenético que o homem tem é um paradoxo latente. Ao mesmo tempo que ele quer se firmar em sua razão ele também não quer. O único vácuo deixado pela morte de Deus só pode ser preenchido pelo positivismo das ciências assim como com o poder e ilusão do consumo e das superficialidades modernas.
Bem, resumindo, pois isto vai longe, Platão nunca esteve tão moderno frente a um falso racionalismo que também não foi idéia base de Descartes.

Um ceticismo acerca das matemáticas? - Osvaldo


Não sei se podemos assegurar, a não ser através de um argumento cético, que as matemáticas sejam “finitas” neste caso, ou apenas quando o fenômeno não é apreendido.
Mas também não podemos dizer que Descartes está preocupado com o “infinito”, mas sim com a comprovação de que certas verdades são as mesmas verdades à disposição a todos os homens independentemente do relativismo filosófico endêmico. Seu projeto é dado a partir da descrença e ceticismo que se originava, sendo que o próprio filósofo já não podia confiar nos próprios juízos após estas indagações e das ciências que eram operadas ainda pelos sentidos, mesmo estas sendo empíricas.
A questão está na facilidade do método, ou seja, as matemáticas não apenas são constituídas de rigor como também são entes inteligíveis, e para Descartes isto vem a corroborar com as verdades do mundo que também podem ser apreendidas de forma inata, e ainda pela razão. Não vamos nos esquecer que a filosofia em si, em seu sentido estrito, lida com as operações racionais desde sua antiguidade.
O problema maior de Descartes é contra o ceticismo, este que estava aumentando no período moderno após as “avalanches” do renascimento e das novas descobertas cientificas, e tinha como interlocutores famosos Montaigne.
Da inteligibilidade dos conceitos matemáticos todos nós não podemos negar, pois estes não são operados pelos sentidos, dado a impossibilidade de sua contradição.
Com efeito,Descartes faz uma reviravolta surpreendente ao trazer de volta os vieses da Grécia antiga após o vácuo deixado pelo dogmatismo escolástico, e não obstante, eleva o sujeito como “conhecedor”, explorador e “certificador” daquilo que até então era imposto de forma inquestionável. Ele sistematicamente “implode” toda a forma de pensar rudimentar até então, esta que também perdura até os dias atuais.
Oras, como já disse nas outras postagens do mesmo tema, uma vez que Descartes procura um fundamento verdadeiro que dê a certeza que ele necessitava para a epistemologia, ele ainda tem um problema que originara sua busca.
Se tenho a certeza de minha existência, se cogitamos,se apreendo as matemáticas sendo esta imbuída de inteligibilidade, ainda assim a verdade lá fora não pode ser provada, mas apenas minha mente e existência posso provar. Ele então é fadado, inicialmente, ao solipsismo.
Isso significa que sou apenas uma substância pensante, mas para provar também a realidade da “res extensa”, ou seja, da matéria, ele formula o argumento ontológico para a prova de Deus que se resume no “back-up” de todo o conhecimento possível, mas este após o rigor da edificação de um edifício forte e seguro.
Para finalizar, você citou: “No máximo a proposta de Descartes de um método de viés matemático pode explicar como a mente conhece, mas não como são de fato”.
Este é um assunto extenso, não dá para resumir aqui, é impossível, talvez você esteja se referindo a algo estritamente ontológico e fenomenológico aqui, tratado a partir do cartesianismo e do cogito. Ainda digo que não é o viés cartesiano, e sim a teoria do conhecimento a partir da primazia da subjetividade. Grosso modo, ele eleva o sujeito a um status sem precedentes.
Esta sua indagação nos remete de forma abrangente à fenomenologia, tratado por Brentano, Husserl, Ponty, Heidegger, e Sartre. Mas advinha quem dá o impulso inicial?
O próprio Descartes.

sábado, 28 de agosto de 2010

O modelo atual de pensar é de fato cartesiano? Osvaldo


A ciência moderna, tanto quanto os vieses racionais da atualidade, empregam a base cartesiana para se propor o que de fato é "verdadeiro".
Mas devemos salientar que a razão em si toma um rumo diametralmente oposto daquilo que havia proposto Descartes. Como tudo acontece em filosofia, parece que o que é bom ao homem se torna uma área de conhecimento à parte e, a partir disto, hoje o que resta em filosofia propriamente dito é somente aquilo que não debate as áreas dos saberes, a exemplo de psicologia, ciência, antropologia, sociologia, física e biologia. Estas que outrora faziam parte de todo um compêndio filosófico.
Descartes propôs uma metafísica que jaz por detrás de sua obra, e esta de fato é o viés necessário para a fundamentação do “eu” cognoscente, e que por detrás de tudo está assegurado pela existência de Deus (há de se ressaltar aqui um debate não teológico, mas de logicismo), para que não caiamos no ceticismo da existência do mundo físico e de nossa própria subjetividade, como em um idealismo, ou seja, o mundo só existe em nossas mente (este foi um dos problemas iniciais de Descartes após o descobrimento de sua primeira verdade, a do cogito.
Oras, a saber, ciência e Deus hoje não mais combinam. Tanto quanto o fato da metodologia cartesiana, se fosse bem empregada, não haveria os erros idiossincráticos daqueles que o fazem segundo suas “razões”. E razão hoje ainda é “irracional”, tendo em vista que ela não é bem empregada e conduzida, preferindo-se muitas das vezes aceitar o irracionalismo do mundo, ou seja, a presente sociedade vive, mata e morre de modo mecânico, sem motivos lógicos, sem dar conta dos próprios atos. Irracionalismo é agir sem inteligência, sem equilíbrio entre razão e emoção.
Penso que há um erro endêmico em se dizer que o atual “modus operandis” seja cartesiano. Não é! Ao menos não completamente, pois creio que para a ciência prevaleceu o método e seu rigor apenas, e para a humanidade a ilusão de que o senso comum, capitado e elaborado pelos sentidos, ainda salta à razão como verdades eternas.
É uma circularidade, que nos remete de novo a Parmênides e Heráclito, que por sua vez a Platão, para “depois” Descartes , David Hume, Kant, Hegel, e que por sua vez volta para Parmênides...
O que acontece de fato é que hoje ainda praticamos bem menos filosofia do que outrora. Razão é um sinônimo radicalmente oposto à emoção, como em uma relação paradigmática entre o sagrado e o profano, ou seja, os dois coabitam, no entanto um fenômeno de cada vez apenas pode ser apreendido. E entre as batalhas da razão e emoção, nossos instintos ainda acabam por sobressaírem, na esmagadora maioria das vezes, e lembrando Pascal, o coração tem razões que apropria razão desconhece.
Que isso não nos sirva de arrimo jamais! .

Da audácia do projeto cartesiano – Osvaldo


Há algumas intertextualidades entre Platão, Aristóteles e Descartes, por assim dizer, que nos remetem ao projeto cartesiano.
Após o medievalismo da filosofia que havia se suicidado em termos de experiência devido ao fato das imposições tomistas e aristotélicas empregadas pela escolástica, Descartes é plausivelmente considerado o precursor de toda a modernidade que, ineditamente rompe com os dogmatismos que eram análogos às verdades impostas do mito grego, outrora, ou mesmo de pressuposições céticas quanto ao conhecimento, e este último, já datado no período clássico da Grécia antiga, na qual se via Sócrates e Platão tentando contrapor o relativismo sofista, que abre precedentes à duvida não cientifica e sem critérios.
O projeto de Descartes se torna então de tal magnitude tanto quanto de um "modesto" conhecimento, ou assertiva, dada a inferência de sua "descoberta", se assim posso denominar, da "metafísica do sujeito" que abriu portas para o que conhecemos hoje como fenomenologia e filosofia da mente, tanto como certas ciências cognitivas.
Como não é possível tratar de filosofia de forma sucinta, eu devo discorrer acerca de pontos chaves, ao menos do grande racionalismo de Descartes, que tem um objeto grandioso de evidenciar as verdades através de um método seguro e também evidenciar que, contrapondo o empirismo e o ceticismo, ele volta às questões das reminiscências platônicas e refuta o modo aristotélico de cosmologia e conhecimento.
Bem, de forma inversa eu vou expor que Descartes culmina em seu "argumento antológico" para a existência de Deus, mas este por premissas mais lógicas do que as "especulativas" do argumento de santo Anselmo, no período medieval e escolástico. Mas provar a existência de Deus para descartes era secundário, pois ele pois à prova todo o conhecimento possível existente até então, principalmente os herdados de sua formação acadêmica, e nisto, por fim, ele incluiu as certezas absolutas dos entes da matemática. Fez-se então a duvida "hiperbólica", sendo esta uma alusão às matemáticas e ao radicalismo desta dúvida, que inclui Deus, a si mesmo e o mundo externo.
Como sua primeira descoberta foi a do "cogito", do ser cognoscente, ele funda a sua primeira verdade "exclusiva", e a partir de tal assertiva ele é capaz de chegar às outras verdades através de sua metodologia que, a saber, se resumiria em um critério matemático a priori, que é:
1-Não aceitar nada que não seja evidente e indubitável; 2- Dividir o problema em quantas partes for necessário, a fim de analisá-las individualmente; 3- Conduzir o pensamento por ordem, partindo dos objetos mais simples para os mais complexos; 4- Verificar minuciosamente as conclusões de modo a nada escapar.
O pensamento lógico-matemático aqui não se presume em um ceticismo perene acerca do próprio Descartes, mas penso que é apenas característico de uma "inspiração" que fundamenta todo seu projeto, este com o qual podemos obter a certeza de certas verdades de uma maneira dedutível, porem metodológica, na certeza de que elas corroboram com nossas idéias inatas, pois sendo provado a existência de Deus, a que tudo sustenta como verdade das coisas apreendidas pela mente ,um processo subjetivo para compreender a inteligibilidade das coisas, Descartes obtém sucesso como numa circularidade que culminaria nos próprios entes matemáticos e de sua certeza, criando um problema para o ceticismo filosófico tanto quanto para o irracionalismo, mas alavancando os métodos científicos a partir de então.
Como percebemos, a partir de uma leitura minha, muito do que se preconiza em nossas ciências, como as cosmológicas, parecem aos cientistas premissas tão certas mesmo sendo apriorísticas, como quando se trata de teorias de causalidades e das teorias finais, que fogem aos sentidos humanos e de nossa tecnologia, portanto arrisco dizer que isso se faz através de uma possibilidade de conhecimento intuitivo, já que Descarte afirmava que seria dada ao ser humano a possibilidade de conhecimento das coisas, não havendo "coisa-em-si" (minha leitura) ao menos ao que é inteligível, e sem a prova ontológica da existência de Deus, Descartes seria fadado ao "solipsismo", da existência de tudo somente na mente humana.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Descartes e Platão, uma intertextualidade - Osvaldo


Penso que podemos dizer que há uma linearidade no que tange os métodos da filosofia através do tempo.
A saber, podemos dizer que Sócrates estipulou a maiêutica; Platão a dialética e a reminiscência; Aristóteles a lógica; a idade media a disputa; e em Descartes uma metodologia que perdura, mesmo “aos trancos e barrancos”, por que de “razão” não se tem nada no homem moderno, desde a modernidade filosófica.
Filosofia esta que gerou impacto profundo após sua concepção, após a renascença , na qual Descartes muda completamente o aspecto dos “métodos”.
É interessante salientar que o método não recai mais sobre a discussão posterior à intuição, quanto sobre a própria intuição e os métodos de consegui-la.
Disto podemos inferir que o método filosófico na Antiguidade e na Idade Media se exercita principalmente depois de ter obtida a intuição, ao passo que o método filosófico da Idade Moderna passa a exercitar-se na principalmente antes de obter a intuição e como obtê-la.
De acordo com o Discurso do Método de Descartes, e as idéias filosóficas deste que preocupava como poderíamos chegar a uma evidência clara e distinta, como chegar a uma intuição indubitável e distinta, quer dizer como chegar a uma intuição indubitável da verdade.
Os caminhos que conduzem a esta intuição (não os que depois da intuição a garantem , a provam, ou a depuram, mas que conduzam a ela) são os que principalmente interessam Descartes.
O método é agora pré-intuitivo, e tem como propósito inicial conseguir a intuição.
Aí nos resta uma indagação: como se pode conseguir a intuição? Não se pode conseguir mais do que um modo, que é procurando-a; quer dizer, dividindo em partes todo o objeto que nos aparece confuso, obscuro, não evidente, (alguma intertextualização aqui com Platão?, Ou engano meu?) até que algumas dessas partes se tornem para nós um objeto claro, intuitivo e evidente.
Então já temos a intuição.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Do amargo ceticismo à prova da existência do “Eu”.


Aqui tenho como referência as obras “Discurso do Método” e de “Descartes, A Metafísica da Modernidade”.
De acordo com intertextualidades entre Descartes,Platão e Aristóteles , penso que , após o medievalismo da filosofia que havia se suicidado em termos de experiência devido ao fato das imposições tomistas e aristotélicas da escolástica, Descartes é plausivelmente considerado o precursor de toda a modernidade que, ineditamente, rompe com os dogmatismos que eram análogos às verdades impostas do mito grego, outrora, ou mesmo de pressuposições céticas quanto ao conhecimento, e este último, já datado no período clássico da Grécia antiga, na qual se via Sócrates e Platão tentando contrapor o relativismo sofista, que abre precedentes à duvida não cientifica e sem critérios.
O projeto de Descartes se torna então de tal magnitude tanto quanto de um “modesto” conhecimento, ou assertiva, dada a inferência de sua “descoberta”, se assim posso denominar, da “metafísica do sujeito” que abriu portas para o que conhecemos hoje como fenomenologia e filosofia da mente, tanto como certas ciências cognitivas.
Como não é possível tratar de filosofia de forma sucinta, eu devo discorrer acerca de pontos chaves, ao menos do grande racionalismo de Descartes, que tem um objeto grandioso de evidenciar as verdades através de um método seguro e também evidenciar que, contrapondo o empirismo e o ceticismo, ele volta às questões das reminiscências platônicas e refuta o modo aristotélico de cosmologia e conhecimento.
Bem, de forma inversa eu vou expor que Descartes culmina em seu “argumento antológico” para a existência de Deus, mas este por premissas mais lógicas do que as “especulativas” do argumento de santo Anselmo, no período medieval e escolástico. Mas provar a existência de Deus para descartes era secundário, pois ele pois à prova todo o conhecimento possível existente até então, principalmente os herdados de sua formação acadêmica, e nisto, por fim, ele incluiu as certezas absolutas dos entes da matemática. Fez-se então a duvida “hiperbólica”, sendo esta uma alusão às matemáticas e ao radicalismo desta dúvida.
Como sua primeira descoberta foi a do “cogito”, do ser cognoscente, ele funda a sua primeira verdade “exclusiva”, e a partir de tal assertiva ele é capaz de chegar às outras verdades através de sua metodologia que, a saber, se resumiria em:
1-Não aceitar nada que não seja evidente e indubitável; 2- Dividir o problema em quantas partes for necessário, a fim de analisá-las individualmente; 3- Conduzir o pensamento por ordem, partindo dos objetos mais simples para os mais complexos; 4- Verificar minuciosamente as conclusões de modo a nada escapar.
O pensamento lógico-matemático aqui não se presume em um ceticismo perene acerca do próprio Descartes, mas penso que é apenas característico de uma “inspiração” que fundamenta todo seu projeto, este com o qual podemos obter a certeza de certas verdades de uma maneira dedutível, porem metodológica, na certeza de que elas corroboram com nossas idéias inatas, pois sendo provado a existência de Deus, a que tudo sustenta como verdade das coisas apreendidas pela mente ,um processo subjetivo para compreender a inteligibilidade das coisas, Descartes obtém sucesso como numa circularidade que culminaria nos próprios entes matemáticos e de sua certeza, criando um problema para o ceticismo filosófico tanto quanto para o irracionalismo, mas alavancando os métodos científicos a partir de então.
Como percebemos, a partir de uma leitura minha, muito do que se preconiza em nossas ciências, como as cosmológicas, parecem aos cientistas premissas tão certas mesmo sendo apriorísticas, como quando se trata de teorias de causalidades e das teorias finais, que fogem aos sentidos humanos e de nossa tecnologia, portanto arrisco dizer que isso se faz através de uma possibilidade de conhecimento intuitivo, já que Descarte afirmava que seria dada ao ser humano a possibilidade das coisas, não havendo “coisa-em-si” (minha leitura) ao menos ao que é inteligível, e sem a prova ontológica da existência de Deus, Descartes seria fadado ao “solipsismo” da existência de tudo somente na mente humana.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Dos fundamentos de Platão, da razão e pré-socráticos - Osvaldo


Penso que é interessante salientar que independente de visões "pessoais" como o ceticismo, materialismo, idealismo, racionalismo, ou até mesmo o empirismo, ou outra posição filosófica pertinente a cada um de nós e que foram desdobradas ao longo dos séculos,estas questões do conhecimento, da "gnose", da epistemologia, são obliteradas em muitos compêndios da filosofia contemporânea que execram as proposições metafísicas que, a saber, tentam dar sustento para as teorias que contrapõem o ceticismo filosófico ou o relativismo infundado, então de fato este é um pilar muito sólido para a ciência filosófica enquanto indagação de tudo.Quando não muito, penso que tal síntese, a partir de Parmênides e de Heráclito, são úteis para apagar as chamas do "edifício" do conhecimento em seu "não entendimento".
Penso que de fato Heráclito e Parmênides, grosso modo, encabeçam estas questões que renasceram na filosofia moderna, tendo perpassado inclusive Platão, este que por sua vez mais se preocupou com a questão do conhecimento que, por assim dizer, se inicia com ambos pré-socráticos, e que deixaram certos "problemas teóricos" a serem resolvidos, os quais não eram ingressos na dialética Socrática dada a natureza "peculiar" deste filosofar.
Claro que em uma primeira postagem como esta não poderei discorrer de forma concisa acerca de alguns desdobramentos abrangentes, mas de início e em uma primeira instância, se faz mister mencionar que para Platão, as questões deixadas por Parmênides e Heráclito podem ser juntadas com as dos sofistas e seus peculiares relativismos que detonavam outra "dor de cabeça" para a filosofia. Questão esta também retomada na filosofia moderna.
Aqui minha intenção é apenas salientar a importância da historia da filosofia e os verdadeiros cernes do conhecimento, postulados hoje como "passado", portanto não é intenção minha sair inteiramente do contexto antigo.
Bem, a princípio penso que Platão via em Heráclito uma "certeza", ou no mínimo uma indagação, no que diz respeito ao mundo sensível, da instabilidade e mobilidade,o "devir",ao passo que em Parmênides, Platão faz correspondência com o mundo das idéias, o inteligível, cuja característica é a imutabilidade e estabilidade. Decorrendo disto, penso que Platão faz uma tentativa de "sintetizar" os dois pré-socráticos.
Penso que é de conhecimento de todos que Platão concebe a existência do mundo metafísico das idéias, e esta divisão metafísica da realidade esta na alegoria da caverna, divisão entre o mundo inteligível e o mundo sensível, que inextricavelmente está atrelado às proposições de Heráclito e Parmênides, isto é, do transitório e do imutável.
De fato Heráclito, a meu ver, abre uma tremenda brecha para o relativismo.
Penso que o nada seja, a princípio, ausência de alguma coisa, ou aos nossos sentidos que capturam a realidade como se apresenta. As formas dicotômicas do ser e não ser, e este assunto foi recobrado posteriormente, em Platão e outros filósofos da modernidade, como Descartes, Locke, Hume e Kant, que se preocuparam veementemente com as questões do conhecimento, ou seja, seria este "conhecimento" somente apriorístico, isto é, como é dado de acordo com nossos sentidos, ou ele seria de forma inteligível? Ou uma mescla de ambos?
Parmênides foi o primeiro a pensar que o mundo percebido por nossos sentidos é um mundo de ilusão, aparências (e não há nada aqui de debates com as filosofias orientais). Ele também contrapôs a proposição de mutabilidade, isto é, a aparência sensível das coisas da natureza não possui a realidade (isto nos remete a Platão).
Sendo Parmênides o primeiro a contrapor o ser ao não ser, e o não ser que não é, fica claro, assim penso, que o racionalismo começa a tomar grande fôlego, e posteriormente algo análogo à isto é feito no projeto de Descartes, ou seja, ele assegurou a veracidade e integridade do mundo lá fora com o argumento ontológico para a existência de Deus, que asseguraria idéias eternas e inatas, as "reminiscências" de Platão (estas não são mutáveis), advindas da razão, como a exemplo da matemática, imutável, inteligível, entes que "são"!
Penso que as premissas distintas entre Parmênides e Heráclito estão, a priori, bem sintetizadas, tendo em vista suas linhas mestras e axiomáticas.
No que tange respectivas contribuições ao desdobramento filosófico no que concerne a posteridade de ambos, é característico os fundamentos da filosofia de Platão tendo como base as premissas anteriores destes que forma pilares da filosofia grega, transpassando o período clássico, helênico, medieval, até nossa contemporaneidade, em especial ao fato das proposições que se desdobraram em ontologia, metafísica e, arrisco dizer, uma leitura “antropológica” dados os “vieses cognitivos” de conceitos vistos anteriormente em Parmênides, que indiretamente são abordados nos vieses sofistas, mas obviamente penso que estes últimos não beberam daquela fonte, mas sim haveria um “precedente”.
A saber, Platão deveria, assim como Kant posteriormente o fez em seu idealismo e critica da razão, estabilizar este incêndio provocado por vieses distintos dos dois pré-socráticos. Pois é sabido que Platão não tolerava os argumentos de tal “relatividade” ou perene transformação do conhecimento , que culminaria impreterivelmente em um ceticismo endêmico.
Para Platão o devir só poderia estar situado no mundo sensível, das aparências, enquanto que a perene idéia das coisas permanentes, me perdoem a redundância, só poderia se situar com a inteligibilidade do mundo das idéias perfeitas e que, de acordo com nossa apostila, fundiria o que chamaríamos de metafísica.
Assim sendo, se Platão hoje é denominado como “príncipe” da filosofia, este também teve, além das contribuições da dialética ascendente de Sócrates, pilares sólidos para fundamentar sua filosofia, advindos dos pré-socráticos, que também isto faz se figurar uma dialética da própria historia da filosofia.

domingo, 1 de agosto de 2010

Da razão lógica e metafísica- Osvaldo


Em principio de conversa, se realmente acreditássemos no caos, estaríamos loucos.
Toda forma de “ordenação” à sua volta, incluindo sua própria vida, é nata de uma “ordem”, mesmo que inconsciente.
Como lhe disse, o caos pode ser social e não acerca do “sentido” das coisas. A forma como o homem interpreta seu “arredor”, dentro de uma subjetividade, é díspar do outro homem, mas há certezas impares que norteiam argumentos contra o sentido “caótico” das coisas como elas são.
Há um bom filme para você assistir que se chama “Quem somos nós”, uma releitura que aborda ciência, metafísica, física quântica e energia perene em nosso universo, e para o observador mais atento às sutilezas, verá que por detrás desta “metafísica” há de fato uma ordenação em nosso universo que apenas foge aos olhos do ser humano, desde o macro, até o micro das partículas subatômicas.
Como lhe havia dito anteriormente, o homem, nós observadores, não temos noção da complexidade de tudo que nos cerca, percebemos apenas fragmentos de uma realidade que múltipla, de certa forma “desorganizada ou caótica”, mas que se contém em si.
O problema do niilismo é, a renúncia à sociedade hedonista, ou meramente um ressentimento pela vida, poderia melhor simplificar esta questão como a “filosofia do avestruz”, que simplesmente enfia a cabeça no buraco na terra como se “apaziguasse” toda confluência contraditória externa a si mesmo, mas isto seria também uma ilusão aos fatos evidentes em nossas vidas.
Alguém se qualificar isto ou aquilo, em minha opinião, mesmo sendo esta qualificação de desordem, ordem, acaso, determinismo, inatismo, empirismo, caos, ainda apela para uma abordagem peculiar mediante a vida, mas não passa de uma mera abordagem acerca do desconhecimento de si mesmo e de tudo.
O fato de não podermos conceber o incognoscível por uma questão de “intangibilidade empírica” não pressupõe que, embora seja algo árduo de se realizar, que devemos conceber em contrapartida um argumento de ceticismo acerca da irracionalidade do “ser-no-mundo”, como figurava existencialistas como Heidegger, Camus ou Sartre, isto é, em ultima instância, é uma proposição que atendia e sempre atendeu a diversidade subjetiva do ser humano, tanto quanto outras proposições filosóficas, dentre outras que abrem um leque maior de possibilidades de indagações como a metafísica, e que não se encerram em um irracionalismo perene acerca das coisas ou mesmo não comungam com o fato pertinente do irracionalismo de que as coisas sejam tidas como elas simplesmente se apresentam, mesmo porque a partir deste pressuposto materialista, como muitos filósofos da contemporaneidade apregoam, nada é oferecido como propostas na maioria das vezes, mas tão somente o diagnostico idiossincrático da ação do homem.
Nas confluências de valores múltiplos existentes por aí afora, é natural que isto esteja inserido em uma questão de relativismo, que hoje é levado à extrema concepção de valores que atendem à exclusividade subjetiva, ora do senso comum, da banalização, ora das “leis” autônomas que quem as professam, mas de forma um tanto quanto inexorável em sociedade, nunca um valor “próprio” ou pensamento próprio serão aqueles diferentes do que já existem lá fora, pois como em uma interconectividade de uma malha, bem explicado por Jung, pensamos quase que de forma coletiva, e nada originalmente.
Sartre, em sua obra “ O existencialismo é um humanismo”, deixou claro que o simples fato da existência preceder a essência, ou seja, não há uma causa anterior à nossa, nem deidades nem Deus único, e portanto o homem deve se criar a cada dia mediante o “absurdo” , segundo Camus, ou do “Nada”, segundo ele mesmo, e que como somos uma “malha” de seres que validam a existência através do observador e observado, ou seja, o outrem, há ainda nisto tudo um elemento de humanismo, que é uma tênue linha entre a total desordem do ceticismo caótico e da organização social, grosso modo.
Em ultima analise, poderemos então citar a irracionalidade de Schopenhauer, com sua metafísica da vontade, sendo esta a “aniquiladora” do próprio homem num desejo irracional de destruir a si própria também, salvo o desejo de perpetuar-se. Convenhamos que o velho Schopenhauer muito contribuiu para o desenvolvimento de muitas outras filosofias, em especial o resgate de algumas questões orientais como “ilusão” e também sua obra singular “A metafísica do Belo”. Mas em contrapartida Schopenhauer foi também um estopim, salvo Nietzsche e Freud, para o ressentimento de outras filosofias, sem juízo de valores algum aqui ao fato de eu expor este comentário.
Posto isto, penso que apenas algumas “verdades” podem ser postas à mesa desta discussão, que são as fabulosas e incognoscíveis formas de nosso cosmos, tanto quanto da natureza das coisas e a do próprio homem, bem mais do que a simples “morosidade” intelectual da distinção entre o metafísico e o operacional concreto de uma razão despótica e escrava de si mesma ao esquadrinhar a existência como “irracional”. Fato este muito moderno e contemporâneo, inseridos em uma primazia dos sentidos que, como bem sabemos, nos enganam.
De fato o homem cria para si próprio as mais nefastas mazelas que o atormentam, sendo ele seu próprio carrasco, criando e impondo seus próprios medos aos demais como a si mesmo.
A meu ver, mediante a perfeição deste sistema no qual me permite o “assombro filosófico” , a única disparidade está calçada na sociedade humana. Ao mesmo tempo em que eu ou você desejamos nos livrar destas pilherias pueris, também não queremos, e para tal fomentamos teorias de escape para aquilo que nosso cérebro ainda não consegue conceber minimamente, pelo escasso estágio atual de nosso processamento cerebral e má vontade.
Mas em ultima análise, o bom conselho que dou é não se aprofundar em questões existências se isto tudo o levar a um caminho sem volta. Talvez o grande primado da filosofia seria separarmos o bom senso do senso comum, e minimizar o relativismo extremo imposto pela razão e da falsa idéia de livre arbítrio, pois como disse anteriormente, em termos de matéria nem esta estaria, em ultima análise, livre de uma subordinação que foge dos conceitos apriorísticos das ciências, como poderia ser diferente para um ser pensante imerso neste turbilhão de possibilidades infinitas?
Minhas únicas prerrogativas são acerca da não sacralização da razão lógica em detrimento das questões inatas, intuitivas, que acredito, cercadas pela sustentação de uma “apuração detalhada” do que realmente podemos nos basear, advinda de um processo “racional”, que é operação básica do ser humano, pois ele "pensa", assim como talvez lá bem na frente possamos cometer menos erros assombrosos oriundos de nossa precária operação mental e longe das crenças verdadeiras que são de fato deletérias frente ao nosso progresso.
Pensa-se em grande parte de forma errada, sei bem, e sei também que o raciocínio puramente lógico está inextricavelmente atrelado ao ceticismo, ou seja, nesta linearidade binária do pensamento, seja ele “comum” tanto quanto “erudito”, não prevalece nada além da tangibilidade de proposições que são tidas meramente como apriorísticas, ou seja, o homem já tem por certo questões, mesmo que científicas, de pressupostos não “a posteriori”, e isto está analogamente relacionado ao senso comum binário, pois se crê veementemente na tangibilidade das operações mentais,istoé, de seu conteúdo, de forma que um escrutínio por parte dos mais leigos acerca de fatos que englobam um “todo coeso” é descartado em beneficio da obstrução do intelecto.
Sendo assim há apenas uma “descrença” de processos levados a cabo também pela intuição humana, ou mesmo idéias inatas, que de fato estariam “guiando” nossos sentidos, de modo que bem conduzidos, ao tentar chegarmos mais próximos de uma “verdade” que não fosse banalmente relativizada, pois toda o conhecimento parte das idéias para as "coisas", principalmente acerca das questões quantitativas, bem mais do que as qualitativas. Tal procedimento pode ser também extendido para as outras áreas do saber, estas que são aseguradas pelo "bom senso", e nos guiam para o progresso humano.
A metafísica da subjetividade, advinda de um filósofo moderno e racionalista e que foi o estopim para estes temas da mente, deixa claro que o homem “não é um piloto em seu navio”, não é uma mente comandando um barco, mas um todo coeso, a dualidade corpo e mente é puramente metodológica, o mental não ocuparia espaço, e o não mental ocuparia espaço, temas semelhantes são abordados hoje em ramos filosóficos como a filosofia da mente ou mesmo em neurociência.
De modo algum o projeto de Descartes, mal compreendido tanto quanto os escritos de Nietzsche, ao pressupor que o Francês foi criador desta contemporânea “racionalidade” despótica e lógica, está relacionado ao ceticismo ou à banalização do saber. Poderia se culpar em enorme escala o relativismo extremado para a banalização do senso comum, coisa que pode ser varrida pelo iluminismo da razão bem direcionada.
Deve-se de fato aqui citar a filosofia moderna cartesiana como precursora desta discussão, pois como bem sabemos quase todas as ciências advêm da filosofia, e o projeto cartesiano, ao menos no campo filosófico estrito, isto é, metafísico, não era o de “entender o homem”. No campo metafísico seu projeto era o de mostrar a inconsistência de posições relativistas e, enfim, céticas. Um projeto daquele que o próprio Platão se fez porta-voz, depois de Parmênides e Heráclito: o de encontrar e bloquear mecanismos pelos quais nós nos enganamos e tomamos o falso pelo verdadeiro.
Assim, o projeto cartesiano é no âmbito da verdade. Mas, a partir dele, e incentivado por ele, as pesquisas filosóficas não serão somente sobre a verdade, mas também sobre o “eu”. A certeza é alguma coisa do âmbito subjetivo, e o trabalho dos filósofos será o de mostrar que o “eu” que apresentam é universal e, ao mesmo tempo, não uma figura estranha aos homens.
A saber, o senso comum foi algo tido como pioneiro pelos sofistas, e se para mim eu sou a medida de todas as coisas, eu também então poderei não ser a medida de todas as coisas, em um raciocínio binário, mas o primeiro argumento é o que de fato prevalece neste emaranhado de relativismos pueris, nos quais a banalização do sujeito tanto quanto do conceito de verdade foram engendrados.
Em última instância, é natural dos homens complicarem aquilo que é tão simples, uma alusão aqui à "Navalha de Occan", só que desta vez não em um contexto de ceticismo ou reducionismo.