quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Da fragmentação dos saberes - Osvaldo


A questão proposta para análise é notoriamente complexa e profusa, e incita um debate amplo.
Gostaria de, em primeiro plano, discorrer acerca de como supostamente chegamos num patamar no qual o conhecimento atende as demandas comerciais e do poder social vigente.
Este assunto não poderia ser melhor tratado do que sob uma ótica crítica da filosofia em seu sentido estrito, que a saber, hoje trata ainda daqueles assuntos que não estão situados em campos já “categorizados” do conhecimento humano, por assim dizer.
Como é de nosso conhecimento, as ciências humanas advêm do escopo “unitário” que foi outrora a filosofia em um amplo sentido de pesquisas, fossem elas metafísicas, ontológicas, políticas ou sociais, assim como o conceito de sociologia ter ganho fôlego no positivismo de Auguste Comte, ou mesmo com Weber, Durkeihm ou Marx (este vaticinou o fim da filosofia).
Mas retrocedendo ainda mais na historia, verificamos que até a idade moderna os pensadores ainda detinham conhecimentos múltiplos, seja em ciência, astronomia, medicina e outros.
Os pré-socráticos como os da escola de Mileto, denominados como os primeiros físicos, caminhavam rumo ao que hoje se vê como fragmentos das ciências.
Penso que poderíamos dizer que hoje um dos maiores desafios da filosofia é ser “inspetora” das ciências.
Em um sistema capitalista, dado seu viés que está restrito às aquisições e influências, o conhecimento do mundo, de sua evolução e descobertas, está diretamente relacionado com uma forma aprioristicamente não ética, nos remetendo à subordinação dos retentores do conhecimento.
Penso que não podemos apenas culpar um sistema político para variar. A premissa de que o homem sofre eternamente com confluências externas a si mesmo apenas contribui ainda mais para que possíveis soluções viáveis para a “democratização” do conhecimento soem como utopia.
O conhecimento em seu sentido “egoístico”, ou materialmente mesquinho, ou ainda por disputa de poder e de maior conhecimento a esmo, apenas contribui para o insucesso das empreitadas contra a atuação deletéria do homem frente à natureza, cura de doenças por parte daqueles que não comungam com o império farmacêutico,e soluções de pacificação de conflitos e estudos sociais postos realmente em prática.
O medonho alvorecer que se ergue do conhecimento em sua forma mais ampla, não atende as demandas para a formação de um sujeito social mais critico mediante sua própria existência e o que de melhor proporcionar a ela.
Cito o fato de uma das ramificações científicas, que é a astronomia, refutar pressupostos metafísicos em filosofia e ao mesmo tempo operar com teorias apriorísticas acerca do incognoscível, como as teorias primeiras e finais. Quem dirá da seleção genética ou mesmo da clonagem. Parâmetros estes que jamais podem fugir do debate filosófico mediante o homem já sucumbido pela crença verdadeira e engolfado pelo capitalismo ensurdecedor.
É obvio que toda discussão e pesquisa a priori é boa, se aprende muito, se contribui muito, mas isto não é operado em uníssono, e sim como uma maratona em que o prêmio em si não justifica os meios de obtê-lo.
O que preocupa é o ser humano no futuro com a perda de sua própria identidade, fato que adicionado a uma “escola” que corrobora com os mandatários que preconizam os ditames dos saberes, somente contribui para que afundemos cada vez mais nesta viagem da razão mediante as ilusões de si própria.
Parafraseando Boécio, em sua obra “A consolação da filosofia”, esta ainda é esperança para um futuro no qual ela ainda se mantenha em um patamar de inspeção e crítica dos sabe
Penso que podemos dizer que um filósofo em especial se “rebelou” contra os ditames científicos. Nietzsche vaticinou os grandes problemas da pós-modernidade, em especial que o homem deixou para trás aqueles instintos que protegem a vida, e nisto podemos incluir que hoje o conhecimento é ultra relativizado, fragmentado, e que não alcança sua união em seu bojo único e interdisciplinar.
Os pensamentos de Nietzsche sobre a investigação científica são tão desafiadores quanto a sua visão sobre a moral e religião. A ciência, como um “valor absoluto”, como uma nova religião ao qual nos prostramos, para nossa era sem Deus, é fortemente criticada pelo alemão.
Se perguntarmos, dentro de um escopo de cientificismo, “bondade com que fim?”, também devemos perguntar “conhecimento com que fim?”
Podemos dizer que os cientistas muito frequentemente se conduz como um servo do conhecimento, e sendo eles os novos ditames para uma prole órfã, os demais retentores do saber que atuam ao bel prazer de suas necessidades próprias também não visam as necessidade do coletivo. Ao invés de sermos servos do conhecimento, deixemos que o conhecimento seja o servo do homem.
Segundo ainda Nietzsche, existem muitas coisas que não desejaríamos conhecer. A sabedoria impõe um limite ao conhecimento também.
Se ignorarmos este aviso de Nietzsche, nos tornaremos viciados em conhecimento também, com terríveis conseqüências. Ele cita: “O fato de que a ciência, como a praticamos hoje, seja possível prova que os instintos elementares que protegem a vida deixaram de funcionar. Qualquer verdade que ameaça a vida não é uma verdade, é um erro”
A filosofia ainda é esperança quando esta nos remonta aos seus pilares integrados de outrora, quando as questões ontológicas reverberavam em discussões amplas acerca do potencial humano, do sujeito e da oposição ao descrédito humano e niilismo em que nos encontramos atualmente.
Quanto às ciências em particular, que é objeto desta minha crítica, ela tem uma forma maior do que realmente é. Dentro de um contexto de irracionalidade e indolência contemporânea, serão poucos ou nenhum aqueles que insurgirão contra os que mascaradamente atentam contra a vida, e que inculcam em nossas mentes que a vida longa e perfeição do corpo, mesclados com a subordinação irracional do homem frente os disfarçados mandatários dos ditos sociais, são de fato parte da fragmentação hedonista dos saberes que não se intercomunicam.
E já que o assunto é escola também, nesta o conhecimento a priori de que algo está em desarmonia com os “conhecimentos” não se passa pela cabeça, por mera questão de proveito próprio de todas as partes.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Descartes gera o atual problema corpo-mente- Osvaldo.


Podemos dizer que Descartes apregoa uma questão ainda em voga nos meios filosóficos, do dualismo corpo e mente.
Descartes deixa a questão do dualismo embasado no fato de que a substância “mente” não pode ser compreendida como parte da extensão, ou seja, da matéria.
Este é um tema atual inclusive na filosofia da mente, onde há um debate imenso entre a neurociência e as prerrogativas filosóficas de que se de fato o cérebro pode engendrar aquelas operações que fogem do escopo do empirismo e das sensações, como a intuição e as idéias que pressupostamente sejam inatas.
Descartes discorre acerca deste problema, iniciado por ele, ao professar que podemos claramente entender a noção de mente sem referência a qualquer coisa extensa, e que podemos entender claramente a noção de corpo sem referência a qualquer coisa consciente. Então é logicamente possível que a mente pudesse existir separada do corpo.
Mas para entender Descartes é necessário que, para fugir deste “solipsismo”, ele usa o argumento ontológico para a existência de Deus, que garantiria a possibilidade deste dualismo.
Se corpo e mente podem existir separados, então a mente não depende do corpo para sua existência e, portanto, o corpo não é parte de sua natureza essencial.
Por fim, é necessário salientar que este é um problema de ontologia para Descartes, no qual se subsume sua epistemologia , por assim dizer, que é uma das mais importantes na teoria do conhecimento.

domingo, 12 de setembro de 2010

Que racionalismo? Que homem inteligente? – Osvaldo


A proporção da do racionalismo humano é diametralmente oposta à ignorância do homem, este ainda que mantém suas características da ignomínia pré- histórica.
Não se trata apenas das crenças verdadeiras ou do senso comum que expressadamente volitam os recônditos do ser, mas da própria má vontade em se livrar desta puerilidade endêmica do intelecto.
Como já não bastasse o próprio mau uso da racionalidade em detrimento das opiniões claras, livres de preconceitos e humanisticamente inteligentes, o homem atual prefere se submeter ao crivo da “imbecilidade hiperbólica”, com permissão para o uso do termo cartesiano, para justificar suas tolices e falta de bom senso.
O que vemos hoje em dia é uma progressão do homem ao “concretismo” de suas idiossincrasias nefastas e mal julgadas. De sua ação na sociedade, meio ambiente e política. Como podemos atribuir isto ao racionalismo? Que racionalismo poderia ser este, que é completamente oposto ao verdadeiro principio do racionalismo filosófico? Não estaríamos confundindo racionalismo com racionalidade e suas corruptelas etimológicas?
De racionais, ou mesmo de “racionalistas”, não temos nada. O homem ainda prefere o relativismo de suas próprias proporções que ainda não se faz caracterizar como um ser atrelado à sua alteridade e de noção do outrem.
A saber, o homem é inexoravelmente um ser racional, e um dos papéis da filosofia, que é analogamente racional, é proporcionar ao homem “insights” claros e objetivos acerca daquelas questões que estão fundamentadas no escopo da investigação humana.
Não há erro nenhum em se admitir o homem como ser racional. Não há mácula, preconceito, tampouco evidencias claras de que ser racional é conformadamente igual a ser um idiota, como aqueles que apregoam a incapacidade humana de conhecer as “verdades” que são perenes a todos os homens, dadas à subjetividade, ao ser cognoscente.
Os relativistas, os sofistas, estão situados em um patamar de má crença no próprio ser humano no que tange sua capacidade de alçar um humanismo global e de entendimento uníssono.
Oras, se somos uma espécie de iguais, qual seria então a infamidade e inverossimilidade que propõe o relativismo até nossas entranhas? De certo somos seres diferentes uns dos outros em instâncias psíquicas ou talvez de como abordamos o mundo, mas não ocorre o mesmo quando o assunto é uma imanência das questões de comum acordo para todos, que abarque o humanismo e a desaceleração das idiossincrasias sociais, tanto quanto a própria forma do ser se relacionar com sua alteridade e contingência.
Ao propor que o homem é a medida de todas as coisas, os relativistas se esquecem que nesta proposição jaz algo um tanto quanto primitivo, de cunho estagnado em conceitos análogos àquilo que experienciamos de acordo com nossos sentidos primitivos de sobrevivência somente .
Para reforçar esta selva de esquizofrenia que o homem se encontra hoje, os assuntos que nos remetem ao sobrenatural são repletos de evidencias dogmáticas é mau fundadas que tratam de Deus, ética e moral.
Se alguém me disser que pode provar que Deus o outorgou a professar em seu Nome, direi que este alguém é falacioso e decrepitamente alucinado, sem bom senso e sem maturidade intelectual frente às questões de cunho incognoscível. Seria muita pretensão alguém querer falar em nome de Deus, de seus desígnios, das causas primeiras ou finais. Não obstante, apreender de forma racional a ordenação do universo torna-se uma capacidade latente no ser humano, assim como as idéias inatas presentes em todos nós, mas isto se torna uma faculdade de autoritarismo dogmático ao impingir no próprio homem temor, desavenças, baixo estima, esquizofrenia e irracionalismo quando de seu mau uso. Em um sentido lógico, é muito mais que claro que uma idéia de perfeição não contém, para todos os efeitos, as disputas irracionais dos homens acerca de suas veracidades religiosas.
Estamos apenas galgando passos muito curtos rumo a um racionalismo de fato. O que somos apenas é um ser na sua infância.

sábado, 11 de setembro de 2010

Descartes e a antiga ciência- Osvaldo



Descartes não rompe com a ciência, ele apenas dá outra configuração ao saber, rompendo somente com a essência da ciência escolástica, aristotélica, mas por outro lado não ignorando o saber até então apreendido de seus estudos na escola La Flèche.
A essência é para Descartes a subjetividade, ou seja, todo conhecimento parte do sujeito, em ultima análise, não das sensações do mundo exterior. Configura-se assim o sujeito conhecedor, aquele que determinará, em meio a uma selva, os caminhos que o conduzirão a seu exterior.
Descartes também une a isto o fato das idéias inatas, algo parecido com o que Platão professava em suas “formas”, idéias eternas.
A matemática em Descartes entra como dois benefícios, o primeiro de entes inteligíveis, ou seja, não precisam dos sentidos para operá-los, e o segundo como “rigor” metodológico para se “apurar” uma proposição.
Pois bem, para Descartes a primeira instancia de sua filosofia foi a veracidade do cogito, do ser cognoscente. Deus foi uma necessidade que também passou pelo crivo de sua duvida radical, chamada de “hiperbólica” com alusão à matemática por se tratar de uma duvida em escala universal, ou seja, ao invés de duvidar de cada coisa, ele duvidou de sua própria existência e até de Deus.
Portanto, a primeira evidencia para Descartes não é Deus, e sim o sujeito, a mente, e logo após, para não cair no ceticismo que se o mundo lá fora existe ou não, tornando sua filosofia apenas “idealista” (existente apenas na mente, como diz Berkeley), ele prova a existência de Deus (sem tratados teológicos) para a veracidade da ordem, do cosmos, e das idéias inatas que é de igual a todos os homens. Mas para tal somente a filosofia e o “método” poderiam proporcionar esta visão.
Sem sombra de dúvidas sempre processamos “referências”, e o ato de filosofar é ir além das referencias que se tornar um dogma. Devemos apenas imaginar até que ponto o ser humano consegue ir além dos referencias.
A saber, uma estagnação referencial pode também nos levar ao senso comum, ou crenças verdadeiras. Imagino que filosofar tem um preceito mais importante de todos, que é a dúvida metodológica, por assim dizer. Ou mesmo um método como a dialética ou o silogismo aristotélico para servirem de estopim à indagação. Mas nisto estamos situados ainda na teoria do conhecimento, esta que tenta de certa forma “universalizar” como é dado o saber humano, e até que ponto se pode conhecer algo de fato.
Vindo mais para a contemporaneidade, a filosofia existencialista tem como ponto fundamental não a metafísica, mas sim o “outro”, o próprio homem como referencial de sua existência. Mas aqui estamos então lidando com ontologia e fenomenologia, aspectos que nasceram a partir da metafísica da subjetividade de Descartes.

Do Relativismo - Osvaldo


Filosofar, em seu sentido estrito, está sempre atrelado ao fato do "conhecimento". Com efeito, a teoria do conhecimento é hoje um dos pilares mais marcantes ainda deste escopo filosófico. Se perguntarmos o que é filosofia hoje, poderíamos dizer que é tudo aquilo que não está categoricamente dividido em áreas diferentes do saber. O que resta então são a ontologia, a epistemologia e a metafísica.
Platão, em seu diálogo com Teeteto, que usa Sócrates como protagonizador , discorre acerca da natureza do conhecimento, pela primeira vez na filosofia então se embate um diálogo entre verdade e relativismo, e isto se refere aos sofistas.
Há de se citar aqui que este relativismo ainda hoje se torna uma problemática para a filosofia, pois ele não é apenas como uma filosofia do pragmatismo americano, mas sim abre um precedente enorme acerca dos problemas sociais mais evidentes quando a tentativa é abarcar um humanismo perene a todos os homens, já que em questão de humanismo, este salienta apenas o potencial humano da concórdia, ética e organização que não são adjacentes de uma metafísica ou mesmo de uma teologia.
Hoje relativismo é sinônimo de não debate, justificativa para o proceder desigual, superficialidade de noções políticas e falta de humanismo pelo fato do homem não mais ter consciência de sua alteridade, ou seja, de que o outro faz parte integrante de sua própria condição de ser, vide o existencialismo.
Portanto, a alegoria da caverna é dita em uma alusão folclórica, mas o intuito de Platão, para além de propor um conhecimento universal, é antes de tudo embasada em sua dialética que a priori leva o homem a se questionar em uma escala ascendente sem jamais se contentar com uma estagnação. Isto no mínimo gera um debate acerca do conhecimento que impossibilita uma inexorabilidade relativista.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Acerca da verdade de cada um - Osvaldo


A grande problemática está no “refinamento” final da verdade de cada um, que por assim dizer irá gerar o que concebemos hoje por relativismo endêmico.
Como em uma dialética ao modo de Sócrates, o que pretendemos na maioria das vezes é um debate no qual nossas crenças mais íntimas estarão ocultas, ou no mais tardar, a opinião alheia é obliterada de forma subliminar neste composto dialético do retentor da verdade (quem de fato abriria mão de suas verdades finais mais “pungentes”?) como em um debate entre amigos, o dito é que religião ,futebol e política não se discute, portanto a dialética é meramente estanque a determinado ponto de sua elucubração.
Na época de Sócrates isto seria algo tremendamente elucidativo, mas hoje não mais, pois o relativismo é fossilizado nas entranhas do ser, quando não muito,hoje, é uma verdade em nível dogmático através das impressões dos sentidos ou do pragmatismo funcional.
A saber, a filosofia trata dos assuntos mais delicados, aqueles que poucos ousam debater no viés da dúvida como princípio e de uma crítica que a antecede.
Isto está muito caracterizado conforme explica Nietzsche na confluência de forças antagônicas e internas engendradas pelo próprio homem, em uma análise da subjetividade humana. Ao mesmo tempo em que queremos algo, simultaneamente não queremos nada.
A filosofia, em última análise, serve para demolirmos as crenças mais pueris apreendidas ao longo da vida, e mesmo assuntos de cunho metafísico se tornam mais claros e menos dogmáticos quando os tratamos a partir do olhar ontológico, do ser,da subjetividade, e não mais daquilo que é externo a nós e imposto.
Voltando a Nietzsche, de fato a idéia de um homem “ideal”, ao menos no que tange toda a capacidade humana de valoração da espécie, é ainda algo póstumo que assim já preconizava o filósofo em seu tempo, mais de um século atrás. Ou seja, não somos capazes nem ao menos de sermos homens de bem e racionalmente “ordenados” e libertos mesmo mediante do pressuposto de antologia pura, já que neste caso se descarta toda a metafísica, e se há alguma metafísica implícita, é a do temor!

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Das inexorabilidades da razão - Osvaldo


Mergulhando mais fundo na questão, não haveria algo de "endêmico" em algumas criticas no que concerne a "razão" pela própria razão...ou seja, destituindo os clássicos argumentos racionais desde Sócrates, o que poderíamos "colocar" no lugar?
Ao que me parece, tudo culmina em um sentido evolutivo do próprio homem, sendo este ou não dotado do "bom uso” da razão ou o que ela de fato significaria hoje, pois desde as formas primitivas do ser humano, quando o cérebro ainda não tinha toda sua formação atual, me parece que Darwin não se exclui disto em suas teorias tampouco.
Penso que a grande questão é de fato social, humana, idiossincraticamente gerada pelo próprio homem com suas façanhas pueris.
Jung faz uma longa explanação acerca da “sombra” individual, analogamente à coletiva, geradas por nós mesmos.
Kant talvez tenha acertado em cheio no que diz respeito a “diversas formas de observações”, isto é uma própria observação minha acerca do autor também. Descartes já havia se identificado como talvez um filósofo “pluralistas”,antes do advento das ciências antropológicas,ao não ser inserido nos limites da filosofia continental, fato este que foi suscitado quando o próprio ingressou nas tropas de Mauricio de Nassau e passou a conhecer outras culturas e costumes, embora de forma um tanto quanto escassa, dado as dificuldades de transporte da época. Descartes foi o famoso filosofo “mascarado”, por não poder dizer de tudo que pensava naquela sociedade de seu tempo.
A única proposição, em filosofia clássica, de um iminente “caos” universal, incluindo das possibilidades de “conhecimento” humano, seria o ceticismo absoluto de David Hume, este que também quase avassala o método dedutivo tanto quanto o indutivo, formas bem conhecidas de como hoje praticamos a nossa ciência e investigação.
Posto isto, não me parece que é mera “ilusão de ótica”, ou o fato de concebermos tempo e espaço distorcidos e de forma linear, que uma regularidade e ordenação das coisas como são dadas no universo não existam. Caso contrário, apresento-lhes a teoria do cérebro em uma cuba, ou mesmo do gênio maligno de Descartes, antes de suas conclusões finais, para talvez reforçar o argumento “ilusório” a la Matrix no que concerne uma tangibilidade perniciosa ou falaciosa daquilo apreendido por nossas mentes.
Num argumento filosófico anti-ceticismo, penso que em se tratando de assuntos macro, estes são perenes e de forma inexoravel independentes de nossas observações que, no micro, se esvanecem no “lambuzar” deste novo doce que é o advento da razão que, junto com filósofos apenas “ocidentais” demais, se perdem ainda ao identificar erros, mas nada propor para a correção.
Tenho muito claro para mim que filosofia ainda é clássica, e que seus desdobramentos se converteram em áreas como sociologia, antropologia e psicologia, dentre outras.
Voltando para a razão, não vejo de que outra forma o homem poderia deixar de usar sua ferramenta “cerebral”, já que penso que “pensar” não é apenas um exercício da raça humana, mas também uma necessidade “inesgotável.
Uma ala mais radical da filosofia culparia os gregos desde Sócrates para esta atual culminação, mas o erro é inerente à espécie, e talvez errar não seja desumano a partir deste principio, pois os mesmos se esquecem de uma substancial diferenciação de culturas e relativismos, e que o ser humano foi compartimentalizado em “setores”, aí sim podemos culpar a idolatria da razão, que enaltece tanto o senso comum quanto as imbecilidades advindas do mau uso da própria, ou mesmo talvez para onde caminham os futuros desafios da filosofia, que talvez seja uma batalha homérica contra o patamar cientifico mais alto que fará que o ser humano se oblitere de sua própria condição humana frente a clonagens e outras tecnologias avançadas, ao brincar simplesmente de “criadores”.
A metafísica filosófica ocidental é o que o pensamento “integrado” é para o oriente, a primeira se dá numa tentativa “racional” de compreender a incognoscibilidade de tudo que nos rodeia, portanto ainda ela é meramente “metafísica”, ao passo que a segunda, inexoravelmente, se valida em seu argumento por uma metafísica perene, ou seja, da necessidade da existência de Deus, Buda, Krishna, ou Oxalá, por exemplo.
Penso que, dentro do escopo acima, não há uma divisão entre razão e fé para os ocidentais, nós já integramos isto na razão, ou se preferir, de forma institucionalizada, e poderíamos voltar até na “sombra coletiva” de Jung.
Mas o “mal” ainda sempre está relacionado às questões falaciosas, crendices, preconceitos, intolerâncias ou mesmo no argumento do terceiro excluído e redicionismo ontológico, e se fossemos apenas “deletar” isto da atualidade que vivemos, retrocederíamos a um ponto ainda da formação do homem e em que este não tinha o “assombro” mediante sua própria existência. Arrisco dizer que isto é latente, e não induzido, porém contornável, com muito esforço, mas contornável.
O argumento do ceticismo filosófico, que também tira os créditos da razão enquanto formas de conhecimento, também é falho, diria inclusive que é um contra-senso para as investigações ontológicas , que também se inserem na metafísica. Somente não façamos confusão entre Ceticismo clássico e ceticismo “metódico”, adotado por Descartes para Eliminar em sua época crenças infantilizadas ou mesmo as advindas do senso comum.
Usar bem a razão não é tão mal assim, talvez o homem fosse bem menos “caniço”, não fosse por suas emoções de resquícios primitivos, as quais ainda o fazem esquecer que a era da “sobrevivência” em si já passou, mas seus resquícios permanecem num córtex ainda a lapidar.
A lógica clássica ou a razão não fomenta as idiossincrasias sociais e psicológicas que encontrarmos hoje, pois na época dos gregos antigos nada se sabia de estudos do cérebro humano, ainda não existia Freud nem Jung, tampouco a neurociência.
Minhas únicas prerrogativas acerca de meu argumento acima foram da não sacralização da razão lógica em detrimento das questões inatas, intuitivas, que acredito, cercadas pela sustentação de uma “apuração” do que realmente podemos nos basear, advindo de um processo “racional”, que é operação básica do ser humano, pois ele pensa, assim como talvez lá bem na frente possamos cometer menos erros assombrosos oriundos de nossa precária operação mental.
Pensa-se em grande parte de forma errada, sei bem, e sei também que o raciocínio puramente lógico está inextricavelmente atrelado ao ceticismo, ou seja, nesta linearidade binária do pensamento, seja ele “comum” tanto quanto “erudito”, não prevalece nada além da “tangibilidade” de proposições que são tidas meramente como “apriorísticas”, ou seja, o homem já tem por certo questões, mesmo que científicas, de pressupostos não “a posteriori”, e isto esta analogamente relacionado ao senso comum binário, pois se crê veementemente na tangibilidade das operações mentais, ou seja de seu conteúdo, de forma que um escrutínio por parte dos mais leigos acerca de fatos que englobam um “todo coeso” é descartado em beneficio da obstrução do intelecto.
Sendo assim há apenas uma “descrença” de processos levados a cabo também pela intuição humana, ou mesmo idéias inatas, que de fato estariam “guiando” nossos sentidos, de modo que bem conduzidos, ao tentar chegarmos mais próximos de uma “verdade” que não fosse banalmente relativizada.
A metafísica da subjetividade, advinda de um filósofo moderno e racionalista e que foi o estopim para estes temas da mente, deixa claro que o homem “não é um piloto em seu navio”, não é uma mente comandando um barco, mas um todo coeso, a dualidade corpo e mente é puramente metodológica, o mental não ocuparia espaço, e o não mental ocuparia espaço, temas semelhantes são abordados hoje em ramos filosóficos como a filosofia da mente ou mesmo em neurociência.
De modo algum o projeto de Descartes, mal compreendido tanto quanto as escrituras de Nietzsche, ao pressupor que o Francês foi criador desta contemporânea “racionalidade” despótica e lógica, está relacionado ao ceticismo ou à banalização do saber. Poderia se culpar em enorme escala o relativismo extremado para a banalização do senso comum, coisa que pode ser varrida pelo iluminismo da razão bem direcionada.
Deve-se de fato aqui citar a filosofia moderna cartesiana como precursora desta discussão, pois como bem sabemos quase todas as ciências advêm da filosofia, e o projeto cartesiano, ao menos no campo filosófico estrito, isto é, metafísico, não era o de “entender o homem”. No campo metafísico seu projeto era o de mostrar a inconsistência de posições relativistas e, enfim, céticas. Um projeto daquele que o próprio Platão se fez porta-voz, depois de Parmênides e Heráclito: o de encontrar e bloquear mecanismos pelos quais nós nos enganamos e tomamos o falso pelo verdadeiro.
Assim, o projeto cartesiano é no âmbito da verdade. Mas, a partir dele, e incentivado por ele, as pesquisas filosóficas não serão somente sobre a verdade, mas também sobre o “eu”. A certeza é alguma coisa do âmbito subjetivo, e o trabalho dos filósofos será o de mostrar que o “eu” que apresentam é universal e, ao mesmo tempo, não uma figura estranha aos homens.
A saber, o senso comum foi algo tido como pioneiro pelos sofistas, e se para mim eu sou a medida de todas as coisas, eu também então poderei não ser a medida de todas as coisas, em um raciocínio binário, mas o primeiro argumento é o que de fato prevalece neste emaranhado de relativismos pueris, nos quais a banalização do sujeito tanto quanto do conceito de verdade foram engendrados.
Em ultima instância, é natural dos homens complicarem aquilo que é tão simples.
Mas podemos não mais discutir isto se assim preferirmos, pois me parece que sempre estamos tentando falar a mesma língua, mas com um viés diferente e igualmente sendo enganados por nossas sensações "semânticas" e apriorísticas de nossos respectivos prismas, pois parafraseando Hume, filosofia pode ser um grande passatempo, e temos que comer e sociabilizarmos, sob os auspícios de um mundo de fantasias(este último acrescentado por mim).O relativismo não é base para o conhecimento. Refutar a razão humana frente à possibilidade de humanismo significa somente servidão às crenças e impossibilidade de autonomia.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Platão,Pitágoras e Descartes- Osvaldo


É muito tentador dizer que não foi somente Descartes que se baseou na inteligibilidade do ser imutável das matemáticas para sua proposição ao conhecimento.
Talvez podemos inferir que Platão diria que a morte de Sócrates foi o momento Da virada em sua vida, pois Atenas não era mais um local seguro para os discípulos de Sócrates, sendo assim, ele vagou exilado pelo mundo mediterrâneo por mais de uma década, finalmente chegando à Sicilia, onde encontrou uma seita de pitagóricos.
Pitágoras fundou um culto “bizarro” de matemáticos no século VI AC, que acreditava poder compreender a natureza do cosmos através dos números . Penso que até aí tudo bem, mas o que vem a seguir é muito duvidoso.
Para purificar suas mentes para os cálculos místicos, os pitagóricos fizeram um voto de “segredo”, só podiam vestir branco, e não praticar nenhum ato sexual.
Alguns outros princípios do culto eram tanto estranhos, como a proibição de “tocar” em feijões.
Poderíamos também deduzir o mote de Pitágoras como “tudo é um numero”, o que significava que nosso universo material e bagunçado é a expressão imperfeita de um universo abstrato superior, um perfeito e harmonioso reino dos números. Vemos aqui outra fonte inspiradora para Platão, ao no mínimo algo que viria corroborar com suas premissas finais.
Bem, a exposição a esta teoria levou Platão à conclusão de que a verdade “real” era abstrata, e como os números, havia a verdade imutável e eterna.
Podemos dizer que todas as cadeiras, por exemplo, são simplesmente um “expressão” da idéia de uma cadeira, e embora nossas cadeiras “reais” sejam falhas e temporárias (Parmênides?). A idéia ou forma de uma cadeira é eterna e imutável.
Depois de passada toda a historia de Platão, de quando foi escravo do rei da Siracusa , e finalmente na Academia, o filósofo livrou o pitagorismo de seus rituais bizarros.

domingo, 5 de setembro de 2010

Ser ou não ser? A incompreensão de ser- Osvaldo


A todo ato de filosofar, a vida se apresenta de forma muitas vezes irracional, isto é, fora da operação de uma racionalidade que pressupõe que os dados apreendidos à mente sejam verdadeiros.
O existencialismo, já desde seu avô Kierkegaard, sempre questionou o sentido do ser na existência e sua finalidade. Albert Camus diria que a existência individual deveria ter um sentido mediante sua falta de sentido.
A partir da modernidade e após o advento racionalista proposto por Descartes, este eleva o ser humano à condição de “examinador” da existência, ou melhor, o homem estava a partir de então longe, em definitivo, dos dogmatismos impostos pela religião que não permitia questionamentos acerca das causas finais e primeiras.
Citar apenas que Descartes propõe a comprovação ontológica de Deus pelo motivo de sua religiosidade cristã é um erro crasso, o filósofo jamais menciona questões teológicas para sua crença em Deus, e sim parte de um argumento que se encaixa em seu projeto para o conhecimento, e de toda a ordenação aparente do universo que não é apenas criado pelos sentidos humanos. Estes quando muito, podem ser refinados em sua metodologia rigorosa que é baseada nas matemáticas, entes inteligíveis e indubitáveis.
Mas o legado de Descartes também traz várias outras complicações para o ser cognoscente, a partir do advento da subjetividade. Ser ou não ser, mesmo após a afirmação do “ser”, nos coloca em uma posição já amplamente discutida pelo existencialismo, que em seu viés se baseia no ateísmo, na existência que precede a essência.
Se sou, o que faço? Se sou, como posso evidentemente me posicionar mediante um irracionalismo que amargamente se aprofunda através do hedonismo e do primitivismo social e intelectual humano?
O advento da subjetividade já não comporta mais determinismos clássicos para o ser humano, ainda mais das provindas de teorias e crenças que nos mostram um Ser que tem uma relação esquizofrênica com sua prole ou teorias que fazem que nós mesmos sintamos esquizofrênicos. No entanto o existencialismo propõe que o homem se faça a cada dia, e tome como responsabilidade sua conduta.
Nietzsche exorta o homem sem temor mediante sua existência, o além do homem, este que jamais estaria envolto de pressupostos deterministas ou em uma moral aniquiladora de seu potencial mais sublime: sua própria realização.
Crer em uma causa primeira e final para toda a existência não pressupõe uma crença temerosa de preceitos e regras para simplesmente “ser”. Em nossa neo-subjetividade estamos ainda um pouco longe de tratarmos do absoluto sem temores impingidos por aqueles que detêm a verdade “temporal”. Quem assegurou a alguém a posse de verdades acerca de outrem, e do que é melhor para um indivíduo que tem, em sua singular existência, ao menos a noção de liberdade de ações?
Longe do filosofar, só resta ao homem mergulhar no absolutismo de sua neo-subjetividade de temores.